20/02/11

Penacova-a- linda: Nemésio, Pécurto e Oliveira Cabral

As belezas naturais de Penacova, as suas tradições, os seus monumentos, têm sido, muitas vezes, tema escolhido por escritores, poetas e fotógrafos para dar corpo às suas obras.
Vitorino Nemésio, escreveu certo dia que “ é preciso chegar às abertas e miradouros para achar a razão de ser da fama de Penacova, que é o seu admirável panorama de água, pinho e penedia.” Excerto bem conhecido de todos nós, ao qual se costuma acrescentar aquela outra afirmação do escritor que diz que “Penacova é luz e penedia com o quer que é de pirenaico trazido às proporções da ternura e rusticidade portuguesa.”
Nemésio esteve ligado a Penacova, onde terá comprado terrenos e alguns moinhos de vento na Portela da Oliveira. Um deles foi, em 1980, doado pelos herdeiros ao nosso município. Na ocasião, nomes famosos como David Mourão Ferreira e Natália Correia, estiveram presentes na cerimónia. Hoje, esse moinho acolhe um dos mais interessantes museus portugueses sobre molinologia.
Também no final dos anos setenta e inícios da década de oitenta, Varela Pécurto, reconhecido fotógrafo de Coimbra, legou ao nosso concelho uma das mais interessantes monografias fotográficas que conhecemos. Com data de 1984 e edição Hilda, , a obra de centena e meia de páginas, inclui um texto introdutório quadrilingue ( português, francês, alemão e inglês) sobre a história e a cultura local.
Um trabalho notável que preserva, através da objectiva fotográfica, a memória e a história destas terras e destas gentes. Além desse registo da beleza paisagística e da riqueza patrimonial, a obra é um retrato, por vezes bem vivo e humanizado, das actividades económicas e das vivências sociais e culturais da época: o fabrico artesanal e doméstico dos palitos, o “ amanho” dos campos, a “sacha” do milho, a pastorícia, as feiras e romarias, as festas e animação à volta do coreto da aldeia…
Estavámos numa época em que a paisagem do concelho acabava de se alterar com a construção das barragens da Aguieira e Raiva. Não fazendo parte do nosso concelho, mas porque confrontava com a freguesia de Travanca, fotografias da desaparecida Foz do Dão fazem também parte deste “ documentário”, bem como o registo das diversas fases da construção daquelas obras de engenharia.
Não sabemos como nasceu a ideia da publicação desta obra dedicada a Penacova. Naturalmente legítimas motivações comerciais. Mas calcorrear o concelho terá exigido, não temos dúvidas, também um apelo estético e uma grande sensibilidade perante a beleza de Penacova: Penacova, a linda, como escreveu Oliveira Cabral.
Não será por acaso que na obra de Pécurto são citados alguns dos versos deste poeta que enaltecem, precisamente, as belezas de Penacova e que, a terminar, aqui deixamos aos leitores:
“ É Penacova, a linda, uma eleita de Deus:
Parece vista ao longe, um presépio, um altar.
Mais branda, a luz do céu cai doce lá dos céus
e cerca-a de ternura, e meiga a vem beijar.
Montanhas a envolvê-la…o Mondego a abraçá-la…
Como é garrida ao vir a Primavera em flor!
Quem uma vez a vê, fica sempre a admirá-la,
que Penacova, a linda, atrai o nosso amor. “

David Almeida,
in jornal Nova Esperança, Fev/Março 08

1 comentário:

  1. Magnpifico texto David, magnífico, só quem conhece ou passa por Penacova para entender a profundiade destas palavras e versos. Descrevendo de forma tão lírica esta Vila que traz a mim, em especial pela ligação até genética, uma emoção e amor muito grandes ao contemplar suas paisagens.
    Parabéns.

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