Apreciada desde o antigo Império Romano, a lampreia é o ingrediente principal de muitos pratos típicos do nosso país. Somos suspeitos, mas diremos que a lampreia à moda de Penacova não se fica atrás da afamada lampreia à Bordalesa ou à moda do Minho.
O modo requintado de a preparar, os sabores e os saberes acumulados ao longo de séculos, fazem dela um dos ícones mais importantes de Penacova. Para muitos, e não apenas para a Confraria da Lampreia, ela é, de facto a “ rainha das iguarias” da nossa região. A comprová-lo está o crescente afluxo de pessoas que fazem muitos quilómetros para, nesta época do ano e dum modo especial durante as edições do Festival da Lampreia virem até ao nosso concelho. Já lá vão catorze anos desde que se realizou o primeiro Fim - de- Semana da Lampreia, agora designado por Festival. É já nos dias 25, 26 e 27 que a Câmara, a Confraria da Lampreia e os Restaurantes vão levar a efeito mais uma edição deste evento que já ganhou raízes no panorama nacional.
Existe hoje um entendimento cada vez maior, no sentido de que é necessario aliar a gastronomia a contextos culturais mais abrangentes. Penacova pode orgulhar-se disso, pois a sua Confraria propõe-se apoiar a elaboração de trabalhos científicos sobre modos de confecção dos pratos tradicionais, roteiros gastronómicos, bem como publicações e conferências.
Também a Autarquia tem estado atenta a esses aspectos. Faz agora um ano que teve lugar o lançamento do livro "Penacova, o Mondego e a Lampreia", tendo como autores os biólogos Fernando Correia, e Carlos Fonseca, da Universidade de Aveiro, o primeiro natural da Pampilhosa e este último natural de S. Pedro de Alva. Na sessão de lançamento, o Prof. Pedro Raposo, da Universidade de Évora, avançou com a ideia da criação de um Centro de Interpretação Ambiental focado na Lampreia e no Rio e alertou para os obstáculos que se colocam ao natural desenvolvimento desta espécie, como sejam a construção de açudes, a exploração de areias e a poluição. Referiu a urgência das obras de construção da escada de peixe ( que finalmente estão em curso ) e apelou para a necessidade duma intervenção nos açudes existentes a montante de Coimbra.
Nem sonhava aquele investigador que, passados oito meses, além desses problemas, o Mondego - ou melhor, aqueles que o amam - foi confrontado com mais uma ameaça: a construção de uma mini-hídrica na zona da Foz do Caneiro. Ironicamente, quando depois de dez anos de luta pela construção da escada de peixe, tal se torna realidade, eis que surge no horizonte o espectro da construção duma obra em sentido contrário. Perante esse propósito Penacova já se insurgiu, antes e depois de nos virem dizer para não nos preocuparmos, porque essa obra será, afinal, uma mais-valia para o concelho, também no aspecto ambiental. Mas, como se costuma dizer, quando as promessas são muitas o povo desconfia…
Que este Festival da Lampreia que aí vem, seja um renovar da tradição em Penacova e seja também um momento de sensibilização para a importância da preservação desta e doutras espécies, nas águas que a Penacova ainda dão vida e beleza.
E a terminar, recordemos o Hino da Confraria da Lampreia: “ Penacova, Penacova / Guarda teus segredos/Tua história e teus amores/E não esqueças a Lampreia /Rainha dos teus Sabores.”
Escrito em 23/12/2010
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