Abram-se os jornais publicados de norte a sul do País, faça-se uma pesquisa de notícias no Google e veja-se como o fecho a torto e a direito de estações dos CTT está a agitar as comunidades que se vêem afectadas por esta medida. S. Pedro de Alva está de novo a braços com a ameaça do encerramento dos Correios. Uma estação centenária, um serviço e um edifício com uma história, como veremos mais adiante.
O povo e a Junta não se conformam. O presidente, Luís Adelino, formalizou na página do Facebook um convite à população no sentido de estar " presente no domingo dia 15 de Maio pelas 10 horas, no centro da Vila de S. Pedro de Alva, a fim de assistir / participar na sessão de esclarecimento dirigido à população beneficiária do serviço postal da região". A mensagem acrescentava que a sessão visava "esclarecer acerca das intenções demonstradas pelos CTT que assentam, essencialmente, no propósito de encerrar a referida estação, e/ou transferir as suas responsabilidades legalmente reconhecidas através da criação de uma parceria público-privada."
As pessoas responderam ao apelo e marcaram presença. Confirma-se a notícia: a administração daqueles serviços quer mesmo ver-se livre dos mesmos e entregá-los a a parceiros privados. A autarquia rejeita essa solução, as populações não aceitam, exigem a manutenção do serviço público e estão na disposição de continuar a lutar.
Mas, vejamos então a história do edifício dos Correios de S. Pedro de Alva. Na reunião de 16 de Março de 1912, a Câmara Municipal toma conhecimento de um ofício da Comissão Distrital, comunicando que fora aprovada a cedência ao sr. Oliveira Matos de uma porção de terreno para, em S. Pedro de Alva, construir um prédio para a instalação da Estação Telégrafo-Postal. Passados dois anos, na sessão de 17 de Outubro, a Comissão Executiva, "apreciou um ofício" dos senhores Oliveira Matos (político de estatura não apenas local mas também nacional, sampedralvense, e Evaristo Lopes Guimarães, benemérito natural de Lorvão, "oferecendo à Câmara um edifício que em S. Pedro de Alva mandaram construir propositadamente para nele ser instalada a estação telégrafo-postal." Diz a acta da reunião que os mesmos puseram "várias condições entre as quais a de a Câmara se obrigar a cedê-lo gratuitamente desde já e de futuro ao Estado para aquele exclusivo fim, revertendo a sua propriedade aos herdeiros do sr. Oliveira Matos quando ele por qualquer circunstância não possa ser aplicado ao fim indicado." A Comissão Executiva da Câmara resolveu convocar extraordinariamente o Senado Municipal para se pronunciar "sobre a aceitação deste oferecimento". Tudo terá ocorrido segundo os trâmites normais e a 25 de Outubro de 1914 teve lugar a "festa de inauguração solene do novo edificio". O sr. António Martinho de Paiva, prestigiado republicano, comerciante de Quintela e "digno Senador Municipal" representou o município, a pedido de Amândio Cabral, presidente da Câmara.
Mas voltemos ao presente. Acabamos de ler no Blogue de S. Paio do Mondego a posição de António Catela, presidente da Junta e membro da Assembleia Municipal há vinte e cinco anos. Partilhamos da sua opinião quando diz que "sendo os CTT uma empresa pública, que presta serviço público no âmbito das comunicações, devia a mesma melhorar cada vez mais os seus serviços e não amputá-los aos cidadãos" pois há serviços prestados pelo Estado "que nunca poderão ser completamente liberalizados". Quase a fazer 100 anos, seria pertinente sugerir (com ironia, claro) à Administração dos CTT que, já agora, pelo menos, nos deixem comemorar o Centenário desta estação de correios. Honrando a memória de Oliveira Matos, político respeitado e benemérito, honrando Evaristo Lopes Guimarães (benemérito lorvanense), prezando as conquistas da República, dignificando um século de serviço público, considerando os legítimos interesses das populações, respeitando e defendendo nestas pequenas-grandes causas, esse "Estado Social" que a demagogia política tanto gosta de invocar e usar como argumento falacioso neste período eleitoral.
Publicado no Jornal Frontal
Post Scriptum: fala-se agora na privatização dos CTT, processo que já estava em curso. Assim, o mais certo é nem chegarem aos 100 anos…
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