Entrevista a Tânia Sofia Tavares
O artesanato contemporâneo é uma actividade em grande expansão a nível nacional. Cada vez há mais pessoas que se dedicam ao artesanato urbano, enquanto actividade económica, com as vantagens da flexibilidade de horários e do prazer de viver a criatividade.
Define-se como uma arte manual com um traço de modernidade e um carácter mais urbano do que o artesanato tradicional. Aposta em vários materiais, desde o feltro ao ferro, assim como em novos conceitos criativos, explorando a diferença, a originalidade e a inovação.
Sofia Tavares, natural de Oliveira do Mondego, onde viveu até aos 25 anos, licenciada em Gestão de Empresas, considera que “ estamos perante um fenómeno que virou "moda" com aspectos positivos e negativos. Positivos no sentido em que as pessoas dão agora, novamente, mais importância ao que é artesanal, único, diferente. Por outro lado, a face negativa de qualquer "moda" é o mercado estar a ser "bombardeado" por imitações, de coisas com pouca qualidade, de "fazer só por fazer" com o objectivo de ganhar mais algum dinheiro.”
Pela sua ligação ao nosso concelho e por reconhecermos a seriedade do seu trabalho, trazemos hoje aos leitores do NE mais um exemplo de empreendedorismo jovem que tem sede na Figueira da Foz, onde podemos visitar a loja “ Canto da Sereia Artesanato / Design per Tutti”, um projecto da Tânia Sofia e do Helder Oliveira.
O que é para vocês o artesanato urbano?
Para nós o artesanato urbano não é mais do que a produção de peças únicas e originais fruto da vivência urbana de cada artesão, tendo por base as técnicas tradicionais. Todo o trabalho artesanal pressupõe qualidade, originalidade, muitas horas de trabalho, de pesquisa de materiais, etc. Apesar de alguma saturação do mercado com produtos de menor qualidade, temos a certeza que os trabalhos verdadeiramente diferentes e inovadores acabam por se destacar e serão esses que permanecerão quando esta "moda" passar.
Como é que todo este projecto nasceu?
Começou por ser uma espécie de terapia anti-stress, uma fuga do próprio dia-a-dia que se veio a tornar um vício; vício esse muito saudável. Actualmente é algo sem o qual não consigo passar, uma extensão de mim, uma paixão e uma necessidade! Fiquei viciada e consegui "pegar" o vício ao meu marido, de tal forma que trabalhamos em equipa. Assim surgiu a Design per Tutti®, que tomou forma e chegámos a um patamar perante o qual decidimos torná-la uma Marca Registada. Hoje está legalmente protegida pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial.
Como descreverias o vosso trabalho?
São peças únicas! Além disso somos bastantes exigentes, todas as peças tem que passar por vários critérios de selecção, até se transformarem no produto final, produto esse, que tem que ter qualidade e originalidade. Chegamos por vezes ao ponto de ter quase o produto pronto ou mesmo pronto e como não está do nosso agrado, reciclamos ou voltamos a fazer de novo!
Os “crafts”, termo geralmente usado por vós, constituem um trabalho a tempo inteiro?
Relativamente a mim, desde Novembro de 2009, passou a ser! Para o Helder é a tempo parcial. Em Novembro de 2009 nasceu um novo projecto: a loja "Canto da Sereia"; mais um projecto tornado realidade, com o apoio de familiares e amigos, na cidade onde vivo, na Figueira da Foz. Também é aqui , num pequeno atelier que trabalho, nos momentos mais calmos, e neste mesmo atelier também damos formação, a nível de workshops e brevemente iremos passar a ter também aulas dos mais variados temas, todos inseridos no "mundo" do artesanato. Consegui desta forma juntar a minha paixão pelo artesanato e fazer uso da minha licenciatura em gestão, gerindo o meu próprio negócio.
Onde é que encontras os materiais para os teus projectos?
Actualmente, já tenho alguns dos materiais que uso no "Canto da Sereia", porque para além de Artigos de Autor, também tenho uma pequena secção de retrosaria. Mesmo assim, não resisto a procurar noutros sítios. A baixa de Coimbra é um deles, e a casa da minha mãe, é outro. Lá em casa tenho encontrado pequenos tesouros e ando sempre á procura de mais. Também compro muita coisa Pela internet, principalmente tecidos!
De onde vem a inspiração para os vossos trabalhos?
De tudo o que nos rodeia, da "escola da vida", mas especialmente do mar! Quando nos sentimos mais desmotivados "criativamente" vamos para o nosso sítio "secreto" e lá conseguimos sempre recarregar baterias para ganhar de novo inspiração. Esse sítio são as belas falésias do Cabo Mondego, onde temos o mar à nossa frente e a serra atrás .
Como é que divulgam o vosso trabalho?
Podem conhecer os nossos trabalhos no "Canto da Sereia" mas também noutras lojas, com quem já trabalhamos antes e mesmo depois de abrir a nossa, continuamos a trabalhar! Depois também temos a divulgação via net, através dos blogues e do facebook. Uma outra forma de divulgação é a participação em feiras de artesanato e em feiras industriais e comerciais. Acedendo aos nossos blogues (por exemplo, http://cantodasereia-au.blogspot.com) , é possível sempre saber onde nos encontramos. E é claro, a divulgação feita pela minha mãe e amigos também foi e continua a ser muito importante.
Qual a vossa ligação a Penacova?
Morei em Oliveira do Mondego durante 25 anos, e é onde os meus pais e alguns familiares ainda vivem! Vim para a Figueira devido a compromissos profissionais e acabei por cá ficar, contudo vou com muita frequência ai e ainda mantenho muitas das amizades que tinha com pessoas do Concelho. Adoro a Figueira, mas o meu coração pertence aí e sempre pertencerá. O Helder está ligado a Penacova por meu intermédio e, apesar de nunca ai ter vivido, também gosta muita dessa zona!
Quais são os vossos planos para o futuro?
São tantos! Que o nosso trabalho se venha a tornar ainda melhor e que o "Canto da Sereia" se torne cada vez maior. Mas todos eles se encaminham para o mesmo objectivo: continuar a alimentar e acolher a nossa e a vossa felicidade.
Entrevista de David Almeida
in Jornal Nova Esperança (2010)
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