Projecto Limpar Portugal: Penacova não pode ficar de fora…
Perante os graves problemas com que a Humanidade se debate nos dias de hoje e que ameaçam o seu futuro, hesitámos um pouco entre o escrever sobre o tema das alterações climáticas e do aquecimento global ou reflectir sobre o Ano Internacional da Diversidade Biológica, ou mesmo ainda, sobre o Ano Europeu da Luta Contra a Pobreza e Exclusão Social.
Optámos por não abordar nenhum deles e falar duma campanha que está em curso por esse país fora e que culminará no dia 20 de Março, dia em que milhares de pessoas em todo o país irão sair à rua para recolher muito do lixo que infelizmente ainda encontramos em lugares recônditos da nossa floresta. Vivemos num país repleto de belas paisagens mas, infelizmente, todos os dias as vemos invadidas por lixo que aí é ilegalmente depositado. A ideia terá nascido na Estónia. Em Portugal a iniciativa partiu dum grupo de entusiastas do todo-o-terreno. Usando a internet e as redes sociais como meio de comunicação, o projecto ganhou milhares de adeptos e em muitos dos concelhos do país existem já grupos de voluntários a trabalhar.
Segundo os organizadores, o Projecto Limpar Portugal tem como objectivo eliminar as lixeiras ilegais existentes no espaço florestal. Trata-se de um movimento cívico de pessoas em regime de voluntariado, não aceitando doações em dinheiro, mas sim em bens e serviços que possam contribuir para a prossecução do seu objectivo. Estão a ser formalizadas parcerias com entidades públicas e privadas que possam ceder bens (sacos de lixo, baldes, luvas...) ou serviços (divulgação do projecto, transporte de pessoas, máquinas para recolha do lixo, camiões e tractores para o seu transporte...). Além disso, insiste o Movimento, é preciso encontrar elos de ligação em todas as freguesias e concelhos. Este movimento está aberto à colaboração de todas as entidades que a ele se queiram associar e com ele colaborar, tais como Associações, Organizações, Empresas, Partidos, Autarquias, Forças Militares, Bombeiros, Escolas e outras instituições.
Visitando o site oficial deste Projecto (http://limparportugal.ning.com/) podemos concluir que são já muitas as escolas aderentes, bastantes municípios, escuteiros, e muitas outras entidades públicas e privadas. Quanto a Penacova, verificamos que em finais de Dezembro o grupo ainda só conta com oito membros e pelo que nos parece a dinâmica ainda está no início. A inscrição pode ser feita através da internet. Penacova não será dos concelhos mais críticos quanto a lixeiras ilegais, mas sendo um concelho florestal, não será difícil encontrar ainda alguns monos atirados para as silveiras ou mesmo até à beira dos caminhos. Além disso, há também a necessidade de sensibilizar as pessoas em geral e à volta desta ideia contribuir para a mudança de atitudes no sentido de consolidar comportamentos mais sustentáveis e amigos do meio ambiente.
O projecto “Limpar Portugal” não vai resolver o problema dos lixos nas nossas florestas e, lamentavelmente a adesão não vai ser esmagadora. Todavia, num tempo em que se apela à participação dos cidadãos, e em que a actuação e as próprias exigência dos mesmos são sinais de consolidação da democracia participativa, acreditamos que vai ser um contributo importante para uma maior sensibilização para os problemas ambientais, a começar pelo nosso meio, por aquilo que nos está mais próximo. Sensibilização que irá envolver as crianças e os jovens que num amanhã, não muito longínquo, assumirão cargos de responsabilidade na vida social, económica e política.
E, deste modo, gradualmente, um novo paradigma ético há-de configurar as consciências e os comportamentos das pessoas e das instituições. O famoso imperativo categórico de Kant há-de ser enriquecido com um novo princípio formulado por Hans Jonas. Princípio ético (Age de tal modo que os efeitos da tua acção sejam compatíveis com a permanência duma vida humana autêntica na Terra) que transcende uma moral do dever, imediata, apontando agora, para uma ética da responsabilidade, mais prospectiva, tendo as gerações futuras no horizonte e a própria sobrevivência da Humanidade no centro das preocupações.
31 de Janeiro de 2010
David Almeida
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04/04/11
25/03/11
Mirante Emídio da Silva
Mirante Emídio da Silva fez 100 anos
O Mirante Emídio da Silva, construído no local do antigo miradouro do Monte da Senhora da Guia, conhecido por Mirante do Castelo, acaba de completar cem anos. Foi precisamente a 31 de Maio de 1908 que teve lugar a sua inauguração.
Certo dia, o Dr. “ Manoel Emigdyo da Silva visitou Penacova e ao chegar ao Mirante do Castelo terá ficado maravilhado com a beleza da paisagem.
Mandado construir pelo então Presidente da Câmara, Dr. José Albino Ferreira, com o apoio importante de Emídio da Silva, o mirante foi desenhado pelo prestigiado arquitecto italiano, radicado em Portugal, Nicola Bigaglia, também projectista da Casa dos Cedros no Buçaco.
A inauguração do Mirante no fim de semana de 30 e 31 de Maio de 1908 foi um acontecimento marcado por grandes festejos, em que Emídio da Silva – e uma comitiva da alta sociedade lisboeta – é recebido apoteoticamente na vila. Centenas de pessoas terão esperado a caravana automóvel na zona da Várzea, pelas cinco da tarde de sábado, com flores e foguetes ao som da Filarmónica Penacovense. À noite, junto ao mirante, a iluminação com balões venezianos pendurados nas oliveiras, juntamente com fogueiras, deram a luz necessária para que o arraial abrilhantado por um rancho de tricanas de Penacova e pela veia artística da cantadeira de quadras populares Emília Carolina fosse um êxito.
No dia seguinte, domingo, o Dr. Alfredo da Cunha, director do Diário de Notícias, descerrou a lápide que ainda hoje se encontra no local com a inscrição “ Mirante Emidgyo da Silva-31-5-908”, ao que se seguiu o discurso emocionado do homenageado, bem como outras intervenções. A festa terá perdido algum brilho, porque um intenso aguaceiro se terá abatido sobre o local a meio das cerimónias. No entanto o entusiasmo de alguns penacovenses, entre eles, Alves Coimbra, António Casimiro e Amândio Cabral, levou a que erguessem aos ombros por entre a multidão o Dr. Emídio da Silva, que deixou Penacova, segundo relatos escritos da época, consternada pela partida, acenando simbolicamente com lenços brancos.
David Almeida
in Nova Esperança , 2008
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Carta de Emidgyo da Silva ao Notícias de Penacova
Ex.mo Senhor
Director do “ Notícias de Penacova”
Meu Prezado Amigo
Solicita V. a minha colaboração para o primeiro número do seu jornal, honra que me desvanece e tanto mais por me dizer que igual solicitação fez ao meu erudito e bondoso amigo Dr. Augusto Mendes Simões de Castro, considerando-nos ambos entre os melhores amigos de Penacova, camaradagem e título que me envaidecem também.
Há um quarto de século que venho a Penacova e que desde o primeiro dia tenho sido um entusiástico propagandista das belezas pitorescas desta linda vila.
A minha propaganda não tem sido porém tão desinteressada como muita gente crê, pois sou pago de cada vez que volto aqui pelo deslumbramento desta sublime paisagem que me inebria de prazer espiritual ! …
E sou ainda generosamente gratificado pelo acolhimento carinhoso e pelas distinções que ao mesmo tempo recebo dos Penacovenses entre os quais logrei criar amizades certas e duradouras.
Notícias de Penacova, da linda terra amiga, oxalá elas me anunciem sempre melhoramentos materiais ou morais, de interesse local ou regional ligados necessariamente ao bem-estar dos seus habitantes! E assim desejo às Notícias de Penacova vida longa e frutuosa.
M. Emygdio da Silva
Lisboa, 10 Set.1931
15/03/11
Cegos que, vendo, não vêem…
Neste mundo cada vez mais globalizado, em que as notícias nos chegam ao ritmo dos segundos e os acontecimentos de âmbito mundial interferem com o nosso quotidiano, estejamos onde estivermos, seja em Nova Iorque, seja em Pequim ou mesmo em Vale de Ana Justa ou no Roxo, a tarefa de escrever num pequeno jornal regional parece estar, à partida, mais facilitada, porque, na realidade nada do que se passa, seja onde for, deixa de ter efeitos em todo o mundo . Da América nos têm chegado notícias nos últimos tempos: não só o 11 de Setembro, não só a crise financeira, mas também a polémica gerada à volta da recente estreia naquele país do filme de Fernando Meirelles , baseado na obra do escritor português José Saramago Ensaio sobre a Cegueira. Ressonâncias ( e ânsias) que se estendem também a este lado do Atlântico.
Algum tempo antes de Saramago ser galardoado com o prémio Nobel da Literatura tivemos a oportunidade de assistir a um debate sobre o Movimento dos Sem Terra, coincidindo com uma das Feiras do Livro de Coimbra. Na visita à Feira, cumprimentámos o autor, que nos autografou precisamente o Ensaio sobre a Cegueira, que acabáramos de adquirir.
Autor polémico (recorde-se, por exemplo, o Evangelho Segundo Jesus Cristo), autor incompreendido e de difícil leitura para muitos.
Um escritor que utiliza com frequência a metáfora (substituição da palavra adequada por outra, com base numa comparação implícita) e a alegoria (sucessão de metáforas e/ou comparações através das quais realidades abstractas são concretizadas) estará, mais exposto a críticas, muitas vezes levianas, seja a propósito dos seus livros, seja como reacção ao filme recentemente estreado nos Estados Unidos e que teremos oportunidade de ver nos nossos cinemas em Novembro.
Que uma Federação de Cegos (Estados Unidos) queira que o filme de Fernando Meirelles sobre o Ensaio sobre a Cegueira seja retirado das salas de cinema, não é mais do que o reflexo duma sociedade vulnerável ao fundamentalismo literário, religioso, político… Com todo o respeito pelas pessoas cegas não concordamos que o director executivo daquela Federação entenda que, quer o livro, quer o filme “ retratam os cegos como incapazes de fazer seja o que for, até como viciados e criminosos”. Recorde-se que em 1998 foram vendidos pacificamente quinhentos mil exemplares nos Estados Unidos.
Achamos que a cegueira enquanto metáfora, passados dez anos, encaixa possivelmente ainda melhor na realidade deste nosso mundo.
O livro narra a história de um grupo de pessoas – sem nome – que vivem numa cidade – também sem nome - que é atingida por uma epidemia de cegueira branca. São encaminhadas para um abrigo, isoladas em grupos, onde ficam de quarentena, lutando para sobreviver num espaço onde a comida é o bem mais precioso. No meio do caos generalizado, apenas uma mulher não é infectada. Cabe a ela tentar perceber o que se passa e encontrar uma saída.
Tal como no filme A Cidade de Deus, também de Fernando Meireles, Blindness não é um filme agradável à vista. É que, a realidade levada ao extremo incomoda muito mais do que viver no faz de conta.
O Ensaio sobre a Cegueira fala da condição humana. Conforme B. Berrini escrevia em 1997, o ensaio retrata o egoísmo humano levado ao extremo quando está em causa a luta pela sobrevivência. No entanto, o livro apresenta uma realidade despida de ilusões mas não desprovida de esperança. A mulher do médico (que não cegara) representa o respeito, o serviço ao outro, a generosidade sem limites, a valorização do essencial, a possibilidade da solidariedade mesmo num mundo que parece irrecuperável.
De facto Saramago não é um escritor fácil. E não é por acaso que alguns dos seus romances se chamem Ensaios.
Recordemos o final do livro. A mulher do médico pergunta porque foi que cegaram. Talvez um dia se chegue a saber – responde ele. E acrescenta: “ penso que não cegámos, penso que estamos cegos, Cegos que vêem, Cegos que, vendo, não vêem.”
David Almeida
escrito em 2008 /2009
Algum tempo antes de Saramago ser galardoado com o prémio Nobel da Literatura tivemos a oportunidade de assistir a um debate sobre o Movimento dos Sem Terra, coincidindo com uma das Feiras do Livro de Coimbra. Na visita à Feira, cumprimentámos o autor, que nos autografou precisamente o Ensaio sobre a Cegueira, que acabáramos de adquirir.
Autor polémico (recorde-se, por exemplo, o Evangelho Segundo Jesus Cristo), autor incompreendido e de difícil leitura para muitos.
Um escritor que utiliza com frequência a metáfora (substituição da palavra adequada por outra, com base numa comparação implícita) e a alegoria (sucessão de metáforas e/ou comparações através das quais realidades abstractas são concretizadas) estará, mais exposto a críticas, muitas vezes levianas, seja a propósito dos seus livros, seja como reacção ao filme recentemente estreado nos Estados Unidos e que teremos oportunidade de ver nos nossos cinemas em Novembro.
Que uma Federação de Cegos (Estados Unidos) queira que o filme de Fernando Meirelles sobre o Ensaio sobre a Cegueira seja retirado das salas de cinema, não é mais do que o reflexo duma sociedade vulnerável ao fundamentalismo literário, religioso, político… Com todo o respeito pelas pessoas cegas não concordamos que o director executivo daquela Federação entenda que, quer o livro, quer o filme “ retratam os cegos como incapazes de fazer seja o que for, até como viciados e criminosos”. Recorde-se que em 1998 foram vendidos pacificamente quinhentos mil exemplares nos Estados Unidos.
Achamos que a cegueira enquanto metáfora, passados dez anos, encaixa possivelmente ainda melhor na realidade deste nosso mundo.
O livro narra a história de um grupo de pessoas – sem nome – que vivem numa cidade – também sem nome - que é atingida por uma epidemia de cegueira branca. São encaminhadas para um abrigo, isoladas em grupos, onde ficam de quarentena, lutando para sobreviver num espaço onde a comida é o bem mais precioso. No meio do caos generalizado, apenas uma mulher não é infectada. Cabe a ela tentar perceber o que se passa e encontrar uma saída.
Tal como no filme A Cidade de Deus, também de Fernando Meireles, Blindness não é um filme agradável à vista. É que, a realidade levada ao extremo incomoda muito mais do que viver no faz de conta.
O Ensaio sobre a Cegueira fala da condição humana. Conforme B. Berrini escrevia em 1997, o ensaio retrata o egoísmo humano levado ao extremo quando está em causa a luta pela sobrevivência. No entanto, o livro apresenta uma realidade despida de ilusões mas não desprovida de esperança. A mulher do médico (que não cegara) representa o respeito, o serviço ao outro, a generosidade sem limites, a valorização do essencial, a possibilidade da solidariedade mesmo num mundo que parece irrecuperável.
De facto Saramago não é um escritor fácil. E não é por acaso que alguns dos seus romances se chamem Ensaios.
Recordemos o final do livro. A mulher do médico pergunta porque foi que cegaram. Talvez um dia se chegue a saber – responde ele. E acrescenta: “ penso que não cegámos, penso que estamos cegos, Cegos que vêem, Cegos que, vendo, não vêem.”
David Almeida
escrito em 2008 /2009
12/03/11
Recordando Manuel de Oliveira Cabral
Não era de Penacova. Nasceu na Covilhã a 15 de Setembro de 1890 e morreu em S. Martinho do Porto em 30 de Outubro de 1974, terra onde casara em 1916 com Estefânia Cabreira. Na capital do norte, onde viveu muitos anos, dirigiu o suplemento infantil de “O Comércio do Porto”. O nomes Estefânia Cabreira e Oliveira Cabral ficaram impressos na capa de muitas obras de carácter didáctico, em especial manuais escolares e colectâneas de música e poesia para crianças. Quem frequentou a escola primária nos anos trinta terá muito provavelmente estudado pelo “ Bom Amigo” e pelo “ Cantinho Florido”, livros de leitura para a 1ª e 4ª classes, respectivamente.
Professor, escritor e pedagogo muito conhecido na sua época, Oliveira Cabral também deixou marcas indeléveis em Penacova. A “esta aprazível estância de repouso” como escreveu um dia, veio passar, nas décadas de 40/50 muitas das suas férias. Ainda hoje este casal é recordado por algumas pessoas, especialmente pelos saraus culturais que promoviam. Além disso, Oliveira Cabral foi um dos grandes impulsionadores do grupo “ Os Amigos de Penacova” que viria a dar origem à Sociedade de Propaganda e Progresso de Penacova. Também nos jornais da região, Notícias de Penacova e Correio de Coimbra, ficaram muitos dos seus escritos. Ainda no Natal de 1960 - e cremos que terá sido das últimas colaborações no Notícias de Penacova – podemos ler uma poesia sua, ilustrada por Guida Ottolini, neta de Roque Gameiro. No “Notícias de Penacova” de 30 de Agosto de 1952, escrevia, sob o título “ Parabéns bom povo de Penacova”, felicitando os penacovenses, na pessoa do presidente da Câmara, Francisco Martins, pela criação de uma Biblioteca Popular, à qual prometia oferecer algumas obras, sugerindo a criação de uma secção infantil. Neste artigo, Oliveira Cabral levanta a questão duma presumível doação testamentária de livros à Câmara de Penacova por parte de Emídio da Silva, facto de que pouco se sabia.
Também no mesmo ano e no mesmo periódico, Manuel do Freixo, pseudónimo de Manuel Vieira dos Santos, escreve sobre Oliveira Cabral, rendendo-lhe homenagem e manifestando o seu agradecimento pela acção que desenvolvera em prol de Penacova. Conta o Arcipreste Manuel dos Santos que fora aquando da primeira homenagem a Abel Rodrigues da Costa que Oliveira Cabral lhe prendera a atenção, ao propor a atribuição do nome daquele benemérito a uma artéria da vila, o que acabou por acontecer, como sabemos. Neste artigo a que estamos a fazer referência, Manuel do Freixo, não esquece a fundação de “ Os Amigos de Penacova” e o seu esforço por “ orientar Penacova no sentido turístico “, salientando nesse aspecto, a publicação duma “ pagela artística” intitulada “ Algumas Palavras sobre Penacova”. Para o articulista, esta iniciativa onde revela o quanto aquele “aprecia, admira e estima tudo o que diz respeito à alcandorada vilazinha de sua predilecção”.
O folheto abre com uma vista geral de Penacova, tirada a partir da zona do Penedo do Castro, aparecendo depois uma gravura sobre o quadro de Eugénio Moreira “ A Ferreirinha ou a Gioconda de Penacova” – que hoje podemos apreciar no Museu Soares dos Reis – enquadrada por um texto do escritor Antero de Figueiredo nas suas “Jornadas em Portugal”. Da “pagela” faz parte também o conhecido cartaz com o slogan “ Penacova - Zona de Turismo - A 25 Km de Coimbra”. É também aqui que Oliveira Cabral publica as quadras “Penacova,a Linda”, inspiradas num trecho de um livro de Raul Proença.
Em Outubro de 1950, Oliveira Cabral publica no Notícias de Penacova uma Carta Aberta ao Presidente da Câmara, onde faz questão de esclarecer que “ não é natural de Penacova, não tem interesses na vila ou na região” e que, por isso “ fala desapaixonadamente”. Começa por louvar a iniciativa da Câmara ao editar cartazes de promoção turística, dos quais teve conhecimento no café Guarani, na cidade do Porto e os quais lhe suscitaram alguns reparos sobre o Turismo em Penacova. “ O turismo quer alegria para os olhos e higiene para a saúde” – escreve a dado momento. Assim, vem alertar para “ o estado lastimoso em que se encontra a muralha de suporte em frente da Pensão Avenida” – onde geralmente se hospedava - e para a poeira que os carros levantam quando atravessam a vila. Depois de sugerir o asfaltamento da estrada até à Casa do Repouso, conclui com alguma ironia dizendo que o cartaz “ pode levar algumas pessoas ao engano, mas…só uma vez!”.
Oliveira Cabral, uma figura interventiva em Penacova, que não sendo penacovense, tal como Emídio da Silva, Simões de Castro, Vitorino Nemésio e alguns mais, procurou ser um embaixador desta terra cheia de potencialidades turísticas. É que, tal como escreveu em 1947, referindo-se a Penacova, a D. Eduarda Silva, nossa entrevistada no número anterior do Nova Esperança e que com ele conviveu enquanto jovem “ Sem uma alma cheia de poesia / Que te cantasse em versos sem rival / Tua beleza decerto esquecia / Quem acha belo o nosso Portugal // E entre tantos que tem cantado / a tua formosura sem igual / Um nome com carinho tens guardado / Porque te ama – Oliveira Cabral”
David Almeida
in Nova Esperança,Jan 2011
Professor, escritor e pedagogo muito conhecido na sua época, Oliveira Cabral também deixou marcas indeléveis em Penacova. A “esta aprazível estância de repouso” como escreveu um dia, veio passar, nas décadas de 40/50 muitas das suas férias. Ainda hoje este casal é recordado por algumas pessoas, especialmente pelos saraus culturais que promoviam. Além disso, Oliveira Cabral foi um dos grandes impulsionadores do grupo “ Os Amigos de Penacova” que viria a dar origem à Sociedade de Propaganda e Progresso de Penacova. Também nos jornais da região, Notícias de Penacova e Correio de Coimbra, ficaram muitos dos seus escritos. Ainda no Natal de 1960 - e cremos que terá sido das últimas colaborações no Notícias de Penacova – podemos ler uma poesia sua, ilustrada por Guida Ottolini, neta de Roque Gameiro. No “Notícias de Penacova” de 30 de Agosto de 1952, escrevia, sob o título “ Parabéns bom povo de Penacova”, felicitando os penacovenses, na pessoa do presidente da Câmara, Francisco Martins, pela criação de uma Biblioteca Popular, à qual prometia oferecer algumas obras, sugerindo a criação de uma secção infantil. Neste artigo, Oliveira Cabral levanta a questão duma presumível doação testamentária de livros à Câmara de Penacova por parte de Emídio da Silva, facto de que pouco se sabia.
Também no mesmo ano e no mesmo periódico, Manuel do Freixo, pseudónimo de Manuel Vieira dos Santos, escreve sobre Oliveira Cabral, rendendo-lhe homenagem e manifestando o seu agradecimento pela acção que desenvolvera em prol de Penacova. Conta o Arcipreste Manuel dos Santos que fora aquando da primeira homenagem a Abel Rodrigues da Costa que Oliveira Cabral lhe prendera a atenção, ao propor a atribuição do nome daquele benemérito a uma artéria da vila, o que acabou por acontecer, como sabemos. Neste artigo a que estamos a fazer referência, Manuel do Freixo, não esquece a fundação de “ Os Amigos de Penacova” e o seu esforço por “ orientar Penacova no sentido turístico “, salientando nesse aspecto, a publicação duma “ pagela artística” intitulada “ Algumas Palavras sobre Penacova”. Para o articulista, esta iniciativa onde revela o quanto aquele “aprecia, admira e estima tudo o que diz respeito à alcandorada vilazinha de sua predilecção”.
O folheto abre com uma vista geral de Penacova, tirada a partir da zona do Penedo do Castro, aparecendo depois uma gravura sobre o quadro de Eugénio Moreira “ A Ferreirinha ou a Gioconda de Penacova” – que hoje podemos apreciar no Museu Soares dos Reis – enquadrada por um texto do escritor Antero de Figueiredo nas suas “Jornadas em Portugal”. Da “pagela” faz parte também o conhecido cartaz com o slogan “ Penacova - Zona de Turismo - A 25 Km de Coimbra”. É também aqui que Oliveira Cabral publica as quadras “Penacova,a Linda”, inspiradas num trecho de um livro de Raul Proença.
Em Outubro de 1950, Oliveira Cabral publica no Notícias de Penacova uma Carta Aberta ao Presidente da Câmara, onde faz questão de esclarecer que “ não é natural de Penacova, não tem interesses na vila ou na região” e que, por isso “ fala desapaixonadamente”. Começa por louvar a iniciativa da Câmara ao editar cartazes de promoção turística, dos quais teve conhecimento no café Guarani, na cidade do Porto e os quais lhe suscitaram alguns reparos sobre o Turismo em Penacova. “ O turismo quer alegria para os olhos e higiene para a saúde” – escreve a dado momento. Assim, vem alertar para “ o estado lastimoso em que se encontra a muralha de suporte em frente da Pensão Avenida” – onde geralmente se hospedava - e para a poeira que os carros levantam quando atravessam a vila. Depois de sugerir o asfaltamento da estrada até à Casa do Repouso, conclui com alguma ironia dizendo que o cartaz “ pode levar algumas pessoas ao engano, mas…só uma vez!”.
Oliveira Cabral, uma figura interventiva em Penacova, que não sendo penacovense, tal como Emídio da Silva, Simões de Castro, Vitorino Nemésio e alguns mais, procurou ser um embaixador desta terra cheia de potencialidades turísticas. É que, tal como escreveu em 1947, referindo-se a Penacova, a D. Eduarda Silva, nossa entrevistada no número anterior do Nova Esperança e que com ele conviveu enquanto jovem “ Sem uma alma cheia de poesia / Que te cantasse em versos sem rival / Tua beleza decerto esquecia / Quem acha belo o nosso Portugal // E entre tantos que tem cantado / a tua formosura sem igual / Um nome com carinho tens guardado / Porque te ama – Oliveira Cabral”
David Almeida
in Nova Esperança,Jan 2011
04/03/11
Artesanato contemporâneo: uma actividade económica em grande expansão

O artesanato contemporâneo é uma actividade em grande expansão a nível nacional. Cada vez há mais pessoas que se dedicam ao artesanato urbano, enquanto actividade económica, com as vantagens da flexibilidade de horários e do prazer de viver a criatividade.
Define-se como uma arte manual com um traço de modernidade e um carácter mais urbano do que o artesanato tradicional. Aposta em vários materiais, desde o feltro ao ferro, assim como em novos conceitos criativos, explorando a diferença, a originalidade e a inovação.
Sofia Tavares, natural de Oliveira do Mondego, onde viveu até aos 25 anos, licenciada em Gestão de Empresas, considera que “ estamos perante um fenómeno que virou "moda" com aspectos positivos e negativos. Positivos no sentido em que as pessoas dão agora, novamente, mais importância ao que é artesanal, único, diferente. Por outro lado, a face negativa de qualquer "moda" é o mercado estar a ser "bombardeado" por imitações, de coisas com pouca qualidade, de "fazer só por fazer" com o objectivo de ganhar mais algum dinheiro.”
Pela sua ligação ao nosso concelho e por reconhecermos a seriedade do seu trabalho, trazemos hoje aos leitores do NE mais um exemplo de empreendedorismo jovem que tem sede na Figueira da Foz, onde podemos visitar a loja “ Canto da Sereia Artesanato / Design per Tutti”, um projecto da Tânia Sofia e do Helder Oliveira.
O que é para vocês o artesanato urbano?
Para nós o artesanato urbano não é mais do que a produção de peças únicas e originais fruto da vivência urbana de cada artesão, tendo por base as técnicas tradicionais. Todo o trabalho artesanal pressupõe qualidade, originalidade, muitas horas de trabalho, de pesquisa de materiais, etc. Apesar de alguma saturação do mercado com produtos de menor qualidade, temos a certeza que os trabalhos verdadeiramente diferentes e inovadores acabam por se destacar e serão esses que permanecerão quando esta "moda" passar.
Como é que todo este projecto nasceu?
Começou por ser uma espécie de terapia anti-stress, uma fuga do próprio dia-a-dia que se veio a tornar um vício; vício esse muito saudável. Actualmente é algo sem o qual não consigo passar, uma extensão de mim, uma paixão e uma necessidade! Fiquei viciada e consegui "pegar" o vício ao meu marido, de tal forma que trabalhamos em equipa. Assim surgiu a Design per Tutti®, que tomou forma e chegámos a um patamar perante o qual decidimos torná-la uma Marca Registada. Hoje está legalmente protegida pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial.
Como descreverias o vosso trabalho?
São peças únicas! Além disso somos bastantes exigentes, todas as peças tem que passar por vários critérios de selecção, até se transformarem no produto final, produto esse, que tem que ter qualidade e originalidade. Chegamos por vezes ao ponto de ter quase o produto pronto ou mesmo pronto e como não está do nosso agrado, reciclamos ou voltamos a fazer de novo!
Os “crafts”, termo geralmente usado por vós, constituem um trabalho a tempo inteiro?
Relativamente a mim, desde Novembro de 2009, passou a ser! Para o Helder é a tempo parcial. Em Novembro de 2009 nasceu um novo projecto: a loja "Canto da Sereia"; mais um projecto tornado realidade, com o apoio de familiares e amigos, na cidade onde vivo, na Figueira da Foz. Também é aqui , num pequeno atelier que trabalho, nos momentos mais calmos, e neste mesmo atelier também damos formação, a nível de workshops e brevemente iremos passar a ter também aulas dos mais variados temas, todos inseridos no "mundo" do artesanato. Consegui desta forma juntar a minha paixão pelo artesanato e fazer uso da minha licenciatura em gestão, gerindo o meu próprio negócio.
Onde é que encontras os materiais para os teus projectos?
Actualmente, já tenho alguns dos materiais que uso no "Canto da Sereia", porque para além de Artigos de Autor, também tenho uma pequena secção de retrosaria. Mesmo assim, não resisto a procurar noutros sítios. A baixa de Coimbra é um deles, e a casa da minha mãe, é outro. Lá em casa tenho encontrado pequenos tesouros e ando sempre á procura de mais. Também compro muita coisa Pela internet, principalmente tecidos!
De onde vem a inspiração para os vossos trabalhos?
De tudo o que nos rodeia, da "escola da vida", mas especialmente do mar! Quando nos sentimos mais desmotivados "criativamente" vamos para o nosso sítio "secreto" e lá conseguimos sempre recarregar baterias para ganhar de novo inspiração. Esse sítio são as belas falésias do Cabo Mondego, onde temos o mar à nossa frente e a serra atrás .
Como é que divulgam o vosso trabalho?
Podem conhecer os nossos trabalhos no "Canto da Sereia" mas também noutras lojas, com quem já trabalhamos antes e mesmo depois de abrir a nossa, continuamos a trabalhar! Depois também temos a divulgação via net, através dos blogues e do facebook. Uma outra forma de divulgação é a participação em feiras de artesanato e em feiras industriais e comerciais. Acedendo aos nossos blogues (por exemplo, http://cantodasereia-au.blogspot.com) , é possível sempre saber onde nos encontramos. E é claro, a divulgação feita pela minha mãe e amigos também foi e continua a ser muito importante.
Qual a vossa ligação a Penacova?
Morei em Oliveira do Mondego durante 25 anos, e é onde os meus pais e alguns familiares ainda vivem! Vim para a Figueira devido a compromissos profissionais e acabei por cá ficar, contudo vou com muita frequência ai e ainda mantenho muitas das amizades que tinha com pessoas do Concelho. Adoro a Figueira, mas o meu coração pertence aí e sempre pertencerá. O Helder está ligado a Penacova por meu intermédio e, apesar de nunca ai ter vivido, também gosta muita dessa zona!
Quais são os vossos planos para o futuro?
São tantos! Que o nosso trabalho se venha a tornar ainda melhor e que o "Canto da Sereia" se torne cada vez maior. Mas todos eles se encaminham para o mesmo objectivo: continuar a alimentar e acolher a nossa e a vossa felicidade.
Entrevista de David Almeida
in Jornal Nova Esperança (2010)
27/02/11
Conversando com a Profª Maria Eduarda Silva

Em Fevereiro de 2008 escrevíamos neste jornal uma crónica sobre Vitorino Nemésio, Oliveira Cabral e Varela Pécurto. Três “embaixadores” das belezas naturais de Penacova. Fizeram-no por meio da escrita, no caso de Nemésio e Oliveira Cabral e através da fotografia, no caso de Pécurto. Passado algum tempo, recebemos uma carta duma assinante do NE, que tendo deixado a sua terra há muitos anos, manifestava a emoção que sentira ao ler o nosso artigo, recordando o convívio que tivera com esse grande amigo de Penacova, Manuel Oliveira Cabral. Em resposta, prometemos uma visita, que só agora se concretizou.
“ Convivi de muito perto com o Senhor Oliveira Cabral e sua esposa D. Estefânia Cabreira quando eles iam aí passar as suas férias” – confidenciava-nos, então, na sua carta

É assim que, depois de, com toda a amabilidade, a Srª D. Eduarda nos ter recebido na sua casa, surge esta reportagem-entrevista . Uma agradável conversa, da qual resultaram estes apontamentos sobre algumas memórias duma época, que estamos convencidos, muitos penacovenses irão apreciar. Filha de Eduardo Silva e neta do Dr. Rodolfo Pedro da Silva, figura importante na Implantação da República em Penacova, de quem falaremos num próximo número. Com muita saudade recorda a casa do avô, onde passou muitos e bons momentos. A tristeza invadiu-lhe a alma quando soube que o edifício, que a família vendera há uns anos, depois de ter saído de lá o quartel da Guarda Nacional Republicana, se encontrava actualmente em ruinas.
Falou-nos da sua vida de professora primária. Começou a trabalhar no Seixo (Carvalho) tendo de seguida leccionado no concelho de Oliveira do Hospital. A sua carreira foi entretanto desenvolvida no concelho de Sátão, onde se aposentou, deixando muito boas recordações nos seus alunos que ainda hoje a visitam. Dos tempos que viveu em Penacova guarda muita saudade. O seu pai era funcionário das Finanças. Apoiante de Humberto Delgado algumas vezes foi perseguido pela PIDE. Também esteve ligado ao Jornal de Penacova, tendo sido redactor do mesmo, no início da década de trinta. Talvez por isso, sempre incentivou a filha a colaborar na imprensa local.
Ela, assim o fez, principalmente através da poesia. Não no Jornal de Penacova, já extinto na altura, mas no Notícias de Penacova. Tivémos o privilégio de ler alguns dos seus poemas, plenos de sensibilidade, sobre a sua terra natal, publicados em 1950. Ainda hoje escreve num dos jornais locais.
Falou-nos também de Oliveira Cabral, enquanto pessoa que gostava muito de Penacova, não se limitando a passar férias desligado das vivências locais. Bem pelo contrário, era uma pessoa que não sendo penacovense, se envolvia nas dinâmicas culturais e recreativas, chegando mesmo a oferecer uma aparelhagem para dar mais vida aos agradáveis serões que tinham lugar na “Casa do Povo”. Segundo nos contou a nossa entrevistada, no piso do rés-do-chão do actual Edifício dos Paços do Concelho, onde será agora o Salão Nobre, existia um salão, com espaço para mesas de bilhar e pingue-pongue, que fazia ligação com o Café Turismo. Aí se realizavam bailes, concursos de “Miss Penacova”, saraus musicais e teatro, constituindo assim um dos centros de convívio dos penacovenses. No primeiro piso, funcionavam então os serviços da Câmara. Por aquele tempo – conta a Srª Profª Eduarda - vivia num palacete (actual edifício da Casa do Repouso) uma senhora brasileira, chamada Raimunda de Carvalho, que ensaiva Teatro e Declamação, contribuindo tudo isto para uma certa animação cultural da vila. Falou-nos ainda das festas dos Bombeiros, do Coreto que existia na Avenida 5 de Outubro, ali em frente da actual Câmara, das Festas da Nossa Senhora da Guia e do Montalto…
Agradecemos à Srª Professora Eduarda Silva toda a gentileza com que nos recebeu e partilhou connosco momentos da sua vida em Penacova, da sua amizade com Oliveira Cabral e esposa, bem como das gratas recordações do seu avô, Rodolfo Silva. Quer de um, quer de outro, falaremos nos próximos números, no sentido de recordar dois Homens que marcaram, não só a história pessoal de muita gente, mas também a vida social e cultural de Penacova.
Sátão, 29 de Dezembro de 2010
David Almeida
in Nova Esperança, Dez 2010
24/02/11
Ano Internacional das Florestas
A terminar o Ano Internacional da Biodiversidade, anuncia-se já o Ano Internacional da Floresta. Não questionando as boas intenções da Assembleia Geral das Nações Unidas, a proliferação de Anos Internacionais acaba por ameaçar a sua credibilidade e pouco mexer com a consciência das pessoas. A sobreposição de temas, muitas vezes num mesmo ano, pode gerar o efeito contrário: superficialidade e banalização. Alguém sabe, por exemplo, quando foi o Ano Internacional da Batata? Não, não estamos a brincar. Foi em 2008. E os seus objectivos foram, pelo contrário, muito nobres: salientar que a produção deste tubérculo pode vencer, em muitas zonas do globo, a desnutrição a fome e a pobreza.
Claro que os Anos Internacionais não fazem mal a ninguém. Mas como sabemos, quando se fala de muitas coisas ao mesmo tempo, as boas intenções diluem-se e acabam por cair em saco roto. O mesmo está a acontecer com os Dias Internacionais. Existem mais de setenta dias de celebração na agenda internacional da ONU. Há um dia internacional para tudo e para todos. Claro que muitos deles são importantes, mas se nos lembrarmos que temos um dia internacional do coelho e um dia internacional da laranja, é fácil concluir que tudo isto de anos e dias internacionais vai acabar por cansar as pessoas e gerar uma apatia ainda maior perante os problemas mundiais.
De pouco valeu, a ONU, em 1980 ter aprovado uma resolução prevendo regras para a selecção e a estruturação dos temas. E assim, temos 2011 como Ano Internacional das Florestas a coincidir também com o Ano Internacional da Química e com a segunda metade do Ano Internacional da Juventude que vai até 11 de Agosto próximo.
Seja como for, para já é a Floresta que vai estar no topo da agenda. Pelo menos nos próximos doze meses. Por isso vamos, nós portugueses, nós penacovenses, procurar aproveitar a mediatização do tema para fazer algo mais em defesa da nossa vasta área florestal, fonte de vida e fonte de riqueza Recorde-se que as florestas fornecem um habitat para diversidade biológica, são uma fonte de alimentos, medicamentos e água potável e desempenham um papel vital na estabilização do clima e do meio ambiente. São, por isso, vitais para a sobrevivência e o bem-estar da população mundial.
Em Portugal, tendo em conta que o conjunto dos espaços florestais ocupa uma grande fatia do nosso território, é pertinente sensibilizar as populações para a importância desta riqueza.O desenvolvimento económico dos três principais sectores da indústria florestal portuguesa, cortiça, madeira e mobiliário, e a pasta e papel, constituem uma prioridade. A indústria florestal ocupa cerca de 5% da população activa é, segundo dados oficiais, responsável por 4% do Produto Interno Bruto (PIB) e por 14% do PIB industrial. Além disso terá representado, em 2009, mais de 10% das exportações nacionais.
Também o concelho de Penacova é caracterizado por ter uma mancha florestal muito grande. Infelizmente tem sido fustigado ao longo dos anos por graves incêndios. Há pois que aproveitar este Ano Internacional para continuar a apostar, quer na defesa e na prevenção, quer na preservação e valorização da Floresta. O município tem um Gabinete Técnico Florestal ,criado em Maio de 2005, ao abrigo de um protocolo celebrado entre a extinta Agência para a Prevenção de Incêndios Florestais e o Município de Penacova. Este Gabinete conta com um técnico florestal e tem como principal objectivo centralizar as atribuições da Comissão Municipal de Defesa da Floresta Contra Incêndios, ao nível Municipal/Intermunicipal, traduzidas em acções de defesa da floresta contra incêndios. Tem também, entre outras atribuições, a missão de aconselhar tecnicamente as acções de arborização, exploração e outras , prestar esclarecimento sobre legislação em vigor e sobre apoios comunitários e nacionais ao investimento na floresta. Neste Ano Internacional, este Gabinete irá, certamente, reforçar a sua acção junto das populações locais, sejam empresários, sejam decisores políticos, sejam associações e instituições locais, seja a população escolar. “ Florestas para as Pessoas” é, precisamente o lema do Ano.
David Almeida
in Jornal Nova Esperança
Claro que os Anos Internacionais não fazem mal a ninguém. Mas como sabemos, quando se fala de muitas coisas ao mesmo tempo, as boas intenções diluem-se e acabam por cair em saco roto. O mesmo está a acontecer com os Dias Internacionais. Existem mais de setenta dias de celebração na agenda internacional da ONU. Há um dia internacional para tudo e para todos. Claro que muitos deles são importantes, mas se nos lembrarmos que temos um dia internacional do coelho e um dia internacional da laranja, é fácil concluir que tudo isto de anos e dias internacionais vai acabar por cansar as pessoas e gerar uma apatia ainda maior perante os problemas mundiais.
De pouco valeu, a ONU, em 1980 ter aprovado uma resolução prevendo regras para a selecção e a estruturação dos temas. E assim, temos 2011 como Ano Internacional das Florestas a coincidir também com o Ano Internacional da Química e com a segunda metade do Ano Internacional da Juventude que vai até 11 de Agosto próximo.
Seja como for, para já é a Floresta que vai estar no topo da agenda. Pelo menos nos próximos doze meses. Por isso vamos, nós portugueses, nós penacovenses, procurar aproveitar a mediatização do tema para fazer algo mais em defesa da nossa vasta área florestal, fonte de vida e fonte de riqueza Recorde-se que as florestas fornecem um habitat para diversidade biológica, são uma fonte de alimentos, medicamentos e água potável e desempenham um papel vital na estabilização do clima e do meio ambiente. São, por isso, vitais para a sobrevivência e o bem-estar da população mundial.
Em Portugal, tendo em conta que o conjunto dos espaços florestais ocupa uma grande fatia do nosso território, é pertinente sensibilizar as populações para a importância desta riqueza.O desenvolvimento económico dos três principais sectores da indústria florestal portuguesa, cortiça, madeira e mobiliário, e a pasta e papel, constituem uma prioridade. A indústria florestal ocupa cerca de 5% da população activa é, segundo dados oficiais, responsável por 4% do Produto Interno Bruto (PIB) e por 14% do PIB industrial. Além disso terá representado, em 2009, mais de 10% das exportações nacionais.
Também o concelho de Penacova é caracterizado por ter uma mancha florestal muito grande. Infelizmente tem sido fustigado ao longo dos anos por graves incêndios. Há pois que aproveitar este Ano Internacional para continuar a apostar, quer na defesa e na prevenção, quer na preservação e valorização da Floresta. O município tem um Gabinete Técnico Florestal ,criado em Maio de 2005, ao abrigo de um protocolo celebrado entre a extinta Agência para a Prevenção de Incêndios Florestais e o Município de Penacova. Este Gabinete conta com um técnico florestal e tem como principal objectivo centralizar as atribuições da Comissão Municipal de Defesa da Floresta Contra Incêndios, ao nível Municipal/Intermunicipal, traduzidas em acções de defesa da floresta contra incêndios. Tem também, entre outras atribuições, a missão de aconselhar tecnicamente as acções de arborização, exploração e outras , prestar esclarecimento sobre legislação em vigor e sobre apoios comunitários e nacionais ao investimento na floresta. Neste Ano Internacional, este Gabinete irá, certamente, reforçar a sua acção junto das populações locais, sejam empresários, sejam decisores políticos, sejam associações e instituições locais, seja a população escolar. “ Florestas para as Pessoas” é, precisamente o lema do Ano.
David Almeida
in Jornal Nova Esperança
21/02/11
Os Forais de Penacova: jóias patrimoniais de um concelho multissecular
Em dia de feriado municipal, Penacova soube estabelecer, dum modo oportuno e feliz, alguns pontos de contacto entre passado e futuro. Anunciando projectos de obras estruturais do concelho, o dia 17 de Julho ficou também marcado pela vinda a público de uma edição fac-similada dos forais de Penacova. Se o novo Palácio da Justiça, se a nova Biblioteca Municipal, se o Saneamento Básico são factores inquestionáveis de desenvolvimento, a atenção prestada às questões histórico-culturais não é de somenos importância, pois não há futuro consistente que não seja ancorado no conhecimento do passado.
A edição fac-similada dos Forais de D. Sancho I (1192) e de D. Manuel I (1513) é, assim, uma iniciativa muito válida da Câmara Municipal no sentido da divulgação e preservação dos documentos fundadores do nosso concelho, conforme se pode ler no prefácio assinado pelo Presidente da Câmara.
A nota introdutória, o glossário, a transcrição paleográfica e tradução pertence a Maria Alegria Marques, professora catedrática da Universidade de Coimbra. Segundo esta investigadora, o facto de Penacova ser depositária de uma história de muitos séculos e detentora de um rico património histórico, artístico e cultural, justificava uma obra de pesquisa deste género.
Os forais são cartas que instituíam, criavam, reconheciam os concelhos, conferindo aos homens livres de um dado espaço geográfico alguns poderes e a possibilidade de se regerem por normas próprias de índole local. Assim, os forais determinavam ou fixavam o direito público local; regulavam algumas obrigações fiscais e determinavam as multas devidas pelos variados delitos e contravenções, registavam disposições sobre liberdades e garantias individuais, sobre os bens, sobre o serviço militar, entre outras .
D. Sancho I, além do perigo muçulmano, teve que enfrentar também o Rei de Leão. Ora, os concelhos eram alfobres de tropas que lhe poderiam ser fiéis. O Foral de Penacova (e também o de Mortágua, que é do mesmo ano de 1192) terá tido assim subjacente um contexto de defesa militar. Por outro lado, segundo Maria Alegria Marques, o conhecimento próximo que o rei teria destas terras e destas gentes, já que na época D. Sancho permaneceu alguns tempos em Coimbra teria também influenciado a concessão do foral.
Com D. Manuel I, no âmbito da reforma dos forais, foi verificado o foral antigo e realizada uma inquirição no local, com o objectivo de esclarecer a situação dos homens em relação com os pagamentos devidos pelos direitos reais. Surge assim o novo foral, passado em Lisboa em 31 de Dezembro de 1513, cujo original foi alvo, recentemente, de um processo de restauro por parte da autarquia.
Além de uma inesgotável fonte histórica em geral, este documento, proporciona um retrato da vida nas terras de Penacova, há quinhentos anos atrás. Mas só mesmo analisando este precioso documento agora publicado é possível aferir o que vimos dizendo. Estamos certos, subscrevendo as palavras finais da autora, que estas propostas de estudo e reflexão, irão contribuir para um melhor conhecimento da história local, factor e sinal de um poder que se pretende, dia a dia, reforçado.
David Almeida
In Jornal Nova Esperança, Julho de 2008
A edição fac-similada dos Forais de D. Sancho I (1192) e de D. Manuel I (1513) é, assim, uma iniciativa muito válida da Câmara Municipal no sentido da divulgação e preservação dos documentos fundadores do nosso concelho, conforme se pode ler no prefácio assinado pelo Presidente da Câmara.
A nota introdutória, o glossário, a transcrição paleográfica e tradução pertence a Maria Alegria Marques, professora catedrática da Universidade de Coimbra. Segundo esta investigadora, o facto de Penacova ser depositária de uma história de muitos séculos e detentora de um rico património histórico, artístico e cultural, justificava uma obra de pesquisa deste género.
Os forais são cartas que instituíam, criavam, reconheciam os concelhos, conferindo aos homens livres de um dado espaço geográfico alguns poderes e a possibilidade de se regerem por normas próprias de índole local. Assim, os forais determinavam ou fixavam o direito público local; regulavam algumas obrigações fiscais e determinavam as multas devidas pelos variados delitos e contravenções, registavam disposições sobre liberdades e garantias individuais, sobre os bens, sobre o serviço militar, entre outras .
D. Sancho I, além do perigo muçulmano, teve que enfrentar também o Rei de Leão. Ora, os concelhos eram alfobres de tropas que lhe poderiam ser fiéis. O Foral de Penacova (e também o de Mortágua, que é do mesmo ano de 1192) terá tido assim subjacente um contexto de defesa militar. Por outro lado, segundo Maria Alegria Marques, o conhecimento próximo que o rei teria destas terras e destas gentes, já que na época D. Sancho permaneceu alguns tempos em Coimbra teria também influenciado a concessão do foral.
Com D. Manuel I, no âmbito da reforma dos forais, foi verificado o foral antigo e realizada uma inquirição no local, com o objectivo de esclarecer a situação dos homens em relação com os pagamentos devidos pelos direitos reais. Surge assim o novo foral, passado em Lisboa em 31 de Dezembro de 1513, cujo original foi alvo, recentemente, de um processo de restauro por parte da autarquia.
Além de uma inesgotável fonte histórica em geral, este documento, proporciona um retrato da vida nas terras de Penacova, há quinhentos anos atrás. Mas só mesmo analisando este precioso documento agora publicado é possível aferir o que vimos dizendo. Estamos certos, subscrevendo as palavras finais da autora, que estas propostas de estudo e reflexão, irão contribuir para um melhor conhecimento da história local, factor e sinal de um poder que se pretende, dia a dia, reforçado.
David Almeida
In Jornal Nova Esperança, Julho de 2008
18/02/11
O fôlego que electrizou Portugal: uma homenagem ao Poder Local
De ressonâncias ( e de algumas ânsias ) é tecida esta crónica que temos vindo a publicar ao longo dos meses e de alguns anos. Ecos que ressoam, mesmo com o passar dos anos, reflexos de factos e de escritos. Reflexões que necessariamente nos convocam para, em diálogo com o passado, com o presente e com o amanhã, registar nas páginas do Nova Esperança, pequenos apontamentos que procuram um diálogo implícito com os leitores.
Ora, em vésperas de eleições autárquicas, trazemos aqui algumas ideias que, nos tempos idos de 1993, tivemos a oportunidade de ler na Revista de Guimarães, tendo como autor Kruz Abecassis, que como muitos se recordam foi presidente da Câmara de Lisboa.
Escrevia então este ex-autarca que “ o exercício das funções de Presidente de uma Câmara, é a mais apaixonante e envolvente tarefa que pode ser atribuída a um político”. Em 2009, apesar de, para muitos ser questionável esta afirmação, somos dos que ainda acreditam que é possível ser autarca com sentido de serviço à comunidade, dum modo desinteressado e transparente. Explicitava, então, Abecassis que “num país como Portugal, com uma tão forte tradição municipalista, o desempenho de tal cargo constitui, no mais profundo sentido da palavra, uma tarefa a tempo inteiro, tal é o envolvimento que exige com as populações e tal é a diversidade dos assuntos para que, constantemente, é chamada a sua atenção.”
Cremos que ninguém contesta a ideia de que, com o poder local democrático, instaurado em 1976, “terras adormecidas durante decénios, um pouco por todo o espaço que somos, acordaram e mobilizaram-se para enfrentar os desafios do futuro e proporcionar aos seus filhos a vida de progresso e de cultura, que é indispensável nos nossos dias.”
Recordamos a nossa experiência pessoal, quando nos tempos a seguir ao 25 de Abril, quase a nível de voluntariado, ajudámos a alcatroar a estrada principal da freguesia, juntamente com muitos jovens ( o Engº Valdemar Rosas, por exemplo) tendo como presidente da junta o Sr. José Henriques. Tantas e tantas “ aventuras “ vividas, que naqueles tempos de generosidade e utopia, reverteram para melhorar as infra-estruturas básicas de que as nossas terras tanto necessitavam. Mais tarde, também como Presidente de Junta, procurámos fazer sempre o melhor que sabíamos e podíamos por uma freguesia ainda muito carenciada.
Mas voltemos à prosa, bem mais apurada do que a nossa. Escrevia Abecassis que “nas aldeias do alto das serras, ou nas do fundo dos vales, surgia a tão ambicionada electricidade e com ela o contacto com o Mundo. Captaram-se águas e estas foram distribuídas domiciliariamente, onde nem fontanários existiam. Multiplicaram-se redes de saneamento e rasgaram-se estradas e caminhos. Os lugares aproximaram-se e os portugueses deram-se as mãos para preparar esta grande festa do desenvolvimento e da conquista da dignidade dos homens.”
Sendo os autarcas, aqueles que estão mais próximos “ do seu povo e com ele partilham as mesmas carências, os mesmos anseios e vivem as mesmas ambições e frustrações”, deles se poderia dizer que, na tradição histórica portuguesa eles continuam a ser “ aqueles a quem se chamou, desde os primórdios da nacionalidade, os “homens bons” dos concelhos.
As autarquias locais vieram, em certa medida, reanimar um órgão fundamental da administração pública portuguesa, cuja importância vinha dos recuados tempos de D. Afonso III quando, pela primeira vez, os procuradores dos concelhos tinham conquistado o seu lugar nas Cortes de Leiria.
Na linha de pensamento do Engº Kruz Abecassis, diríamos que, a instituição do poder autárquico veio restituir às populações a noção de que depende da sua mobilização e da sua vontade colectiva o desenvolvimento local e que todos somos actores, a corpo inteiro, da caminhada no sentido do bem estar social .
“ Todos nós conhecemos e presenciámos este novo fôlego que electrizou Portugal e lhe transformou a face: o aparecimento de novas estruturas difusoras da cultura ou de ocupação dos tempos livres; os equipamentos desportivos, à disposição dos jovens e dos adultos; a iluminação pública renovada e reforçada; o tratamento e distribuição domiciliária das águas; o estabelecimento de redes de saneamento e estação de depuração e tratamento de esgotos; a renovação e extensão, a novos ramos, do seu comércio; a instalação de serviços e a captação de novas indústrias, deixaram de ser privilégio exclusivo de alguns centros do país.” – escreveu acertadamente Kruz Abecassis.
E, a terminar não deixamos de voltar a citar este autarca . As suas palavras, são, acreditamos nós também, uma homenagem e um estímulo para quem , por este país fora tem honrado e continuará a dignificar a função política:
“Cada vez que se vence um obstáculo – valeu a pena! / Cada vez que se abre uma escola – valeu a pena! / Cada vez que se constrói uma casa – valeu a pena! /Cada vez que se abre uma estrada – valeu a pena! /Cada vez que se ilumina um caminho – valeu a pena! /Cada vez que se planta uma árvore – valeu a pena! /Cada vez que se desperta a esperança de quem já não a tinha – valeu a pena!
Porque a vida dos homens é feita destas pequenas coisas que condicionam a sua realização e a sua felicidade. / Porque a missão que escolhemos foi a de melhorar a vida dos homens./ Valeu a pena!”
David Almeida *
in jornal NOVA ESPERANÇA, Set 2009
--------------
*Licenciado em Filosofia
Ora, em vésperas de eleições autárquicas, trazemos aqui algumas ideias que, nos tempos idos de 1993, tivemos a oportunidade de ler na Revista de Guimarães, tendo como autor Kruz Abecassis, que como muitos se recordam foi presidente da Câmara de Lisboa.
Escrevia então este ex-autarca que “ o exercício das funções de Presidente de uma Câmara, é a mais apaixonante e envolvente tarefa que pode ser atribuída a um político”. Em 2009, apesar de, para muitos ser questionável esta afirmação, somos dos que ainda acreditam que é possível ser autarca com sentido de serviço à comunidade, dum modo desinteressado e transparente. Explicitava, então, Abecassis que “num país como Portugal, com uma tão forte tradição municipalista, o desempenho de tal cargo constitui, no mais profundo sentido da palavra, uma tarefa a tempo inteiro, tal é o envolvimento que exige com as populações e tal é a diversidade dos assuntos para que, constantemente, é chamada a sua atenção.”
Cremos que ninguém contesta a ideia de que, com o poder local democrático, instaurado em 1976, “terras adormecidas durante decénios, um pouco por todo o espaço que somos, acordaram e mobilizaram-se para enfrentar os desafios do futuro e proporcionar aos seus filhos a vida de progresso e de cultura, que é indispensável nos nossos dias.”
Recordamos a nossa experiência pessoal, quando nos tempos a seguir ao 25 de Abril, quase a nível de voluntariado, ajudámos a alcatroar a estrada principal da freguesia, juntamente com muitos jovens ( o Engº Valdemar Rosas, por exemplo) tendo como presidente da junta o Sr. José Henriques. Tantas e tantas “ aventuras “ vividas, que naqueles tempos de generosidade e utopia, reverteram para melhorar as infra-estruturas básicas de que as nossas terras tanto necessitavam. Mais tarde, também como Presidente de Junta, procurámos fazer sempre o melhor que sabíamos e podíamos por uma freguesia ainda muito carenciada.
Mas voltemos à prosa, bem mais apurada do que a nossa. Escrevia Abecassis que “nas aldeias do alto das serras, ou nas do fundo dos vales, surgia a tão ambicionada electricidade e com ela o contacto com o Mundo. Captaram-se águas e estas foram distribuídas domiciliariamente, onde nem fontanários existiam. Multiplicaram-se redes de saneamento e rasgaram-se estradas e caminhos. Os lugares aproximaram-se e os portugueses deram-se as mãos para preparar esta grande festa do desenvolvimento e da conquista da dignidade dos homens.”
Sendo os autarcas, aqueles que estão mais próximos “ do seu povo e com ele partilham as mesmas carências, os mesmos anseios e vivem as mesmas ambições e frustrações”, deles se poderia dizer que, na tradição histórica portuguesa eles continuam a ser “ aqueles a quem se chamou, desde os primórdios da nacionalidade, os “homens bons” dos concelhos.
As autarquias locais vieram, em certa medida, reanimar um órgão fundamental da administração pública portuguesa, cuja importância vinha dos recuados tempos de D. Afonso III quando, pela primeira vez, os procuradores dos concelhos tinham conquistado o seu lugar nas Cortes de Leiria.
Na linha de pensamento do Engº Kruz Abecassis, diríamos que, a instituição do poder autárquico veio restituir às populações a noção de que depende da sua mobilização e da sua vontade colectiva o desenvolvimento local e que todos somos actores, a corpo inteiro, da caminhada no sentido do bem estar social .
“ Todos nós conhecemos e presenciámos este novo fôlego que electrizou Portugal e lhe transformou a face: o aparecimento de novas estruturas difusoras da cultura ou de ocupação dos tempos livres; os equipamentos desportivos, à disposição dos jovens e dos adultos; a iluminação pública renovada e reforçada; o tratamento e distribuição domiciliária das águas; o estabelecimento de redes de saneamento e estação de depuração e tratamento de esgotos; a renovação e extensão, a novos ramos, do seu comércio; a instalação de serviços e a captação de novas indústrias, deixaram de ser privilégio exclusivo de alguns centros do país.” – escreveu acertadamente Kruz Abecassis.
E, a terminar não deixamos de voltar a citar este autarca . As suas palavras, são, acreditamos nós também, uma homenagem e um estímulo para quem , por este país fora tem honrado e continuará a dignificar a função política:
“Cada vez que se vence um obstáculo – valeu a pena! / Cada vez que se abre uma escola – valeu a pena! / Cada vez que se constrói uma casa – valeu a pena! /Cada vez que se abre uma estrada – valeu a pena! /Cada vez que se ilumina um caminho – valeu a pena! /Cada vez que se planta uma árvore – valeu a pena! /Cada vez que se desperta a esperança de quem já não a tinha – valeu a pena!
Porque a vida dos homens é feita destas pequenas coisas que condicionam a sua realização e a sua felicidade. / Porque a missão que escolhemos foi a de melhorar a vida dos homens./ Valeu a pena!”
David Almeida *
in jornal NOVA ESPERANÇA, Set 2009
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*Licenciado em Filosofia
16/02/11
“Penacova, o Mondego e a Lampreia”: um excelente cartão de visita para o nosso concelho
A sessão que decorreu no restaurante das Piscinas foi presidida pelo Presidente da Câmara de Penacova, Dr. Humberto Oliveira. Além dos autores, estiveram presentes os investigadores da Universidade de Évora, Bernardo Quintella e Pedro Raposo de Almeida.
O Dr. Humberto Oliveira referiu a importância que reveste esta obra para o concelho de Penacova, município que tem como grandes referências, precisamente, o Mondego, o Alva e a Lampreia, a juntar à riqueza cultural e paisagística. Considerou ser uma obra de excelente qualidade.
O Prof. Bernardo Quintella referiu a seguir alguns aspectos curiosos do ciclo de vida da lampreia, alertando para as especificidades desta espécie, que a tornam muito sensível às alterações ao seu habitat natural. Intervenções humanas que o Prof. Pedro Raposo referiu como sendo a construção de açudes, a exploração de areias e a poluição, além de outros factores. Considerou urgente que, a seguir ao arranque das obras de construção da escada de peixe no Açude-Ponte de Coimbra, há que pensar em intervenções nos açudes a montante, alguns dos quais no nosso concelho. Utilizar o rio para praias fluviais pode ser incompatível com a preservação de espécies migradoras. No caso dos açudes no Mondego, as obras que urge fazer, necessitam mais – no seu entender - de vontade política do que de recursos financeiros. Avançou também com a ideia da criação de um Centro de Interpretação Ambiental focado na Lampreia e no Rio. Os cientistas fazem o seu papel ( este livro demorou dez anos a vir a público) mas depois cabe às pessoas concretizar as propostas.
Os autores apresentaram alguns aspectos desta obra, que vai mais além da temática da lampreia em si e aborda outros aspectos como a hidrografia, os aspectos geológicos, bem como referências a outros aspectos culturais e político-administrativos do concelho.
A obra apresenta-se assim como um dos melhores cartões-de-visita até hoje publicados em Penacova.
David Almeida
in Jornal Nova Esperança, 2010
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